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A INCRÍVEL HISTÓRIA DO BALDE DE IODO RADIOATIVO QUE FICOU 52 DIAS DESAPARECIDO EM BELO HORIZONTE

Por Juvenal Cruz Junot – Repórter investigativo de Rumor de Mídia


No dia 12 de junho de 2021, um caminhão conduzia 15 baldes, de 15 litros cada, de iodo radioativo pelas ruas da cidade. Todos eles seriam entregues a hospitais de Belo Horizonte. No entanto, inexplicavelmente, um destes baldes desapareceu misteriosamente durante o percurso. Só deram pela falta no último hospital da lista, o Madre Tereza. O alarme foi dado e desde então as autoridades policias, sanitárias e especialistas ligadas a tecnologia nuclear ficaram em alerta, temendo pelo pior. Este bem poderia ser o enredo do meu próximo livro, daria uma ótima trama, mas o fato é real. O que o torna mais interessante ainda.


O iodo é um elemento químico radioativo altamente cancerígeno e letal. Após sofrer alterações, é usado em quantidades mínimas em exames e tratamentos, principalmente de hipotiroidismo, sob rigorosos cuidados tanto na aplicação, quanto na manipulação. Pacientes que se submetem a iodoterapia não podem ter contato com mulheres grávidas e crianças menores de 5 anos, e nos primeiros sete dias após tomar a dose deve dormir em quarto separado e não manter relações sexuais, nem beijar outras pessoas. Urinar somente no vaso sanitário e dar descarga três vezes seguidas também estão entre as recomendações.


Estudos mundiais divulgados pela Comissão Nacional de Tecnologia Nuclear (CNEN) apontam que a exposição máxima de um ser humano ao iodo radioativo por ano é de 50 micro sievert (Sv), que é a unidade usada para avaliar o impacto da radiação ionizante. Isso considerando a exposição máxima por hora de 5 micro Sv.


O desaparecimento deste balde, resguardada as proporções, poderia trazer consequências perigosas como a história da cápsula de Césio 137 que foi parar num ferro velho, em Goiânia, e matou oficialmente quatro pessoas, em 1987. Lá, o desastre só não foi maior porque ocorreu numa área facilmente delimitada. Aqui, o iodo por ser líquido e em volume considerável, poderia ser espalhado por uma área geográfica maior ou até mesmo vir a ser misturado a outras sustâncias líquidas, como a água de uma piscina ou a de um serviço de abastecimento municipal. As consequências seriam desconhecidas, mas estimadas como “muito grave” pelos envolvidos.


A inacreditável história do balde desaparecido chegou ao fim no dia 30 de julho deste ano, quando funcionários de uma autoescola, no bairro Heliópolis, também na capital, notaram uma movimentação estranha num lote vago em frente ao estabelecimento. Mais tarde, ao verificarem o local, acharam o galão de iodo radioativo jogado no mato.


Os bombeiros foram chamados e outro imbróglio aconteceu. Técnicos do Centro de Desenvolvimento da Energia Nuclear (CDTN), que funciona dentro do Campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram buscados pelos próprios bombeiros para verificar o balde e seu conteúdo e recolhê-lo. Toda a operação durou cerca de cinco horas e meia, tempo em que soldados, funcionários da autoescola, e os próprios técnicos ficaram expostos à radiação. Segundo as análises feitas – e não divulgadas -, eles podem ter absorvido cerca de 30 micro Sv de radioatividade.


Diante deste grave acontecimento, pelo menos duas decisões importantes precisam ser tomadas pelas autoridades. A primeira é descobrir quem o roubou e com qual finalidade; depois, traçar o percurso do balde pela cidade, quantificar as pessoas expostas à radiação e por quanto tempo, e quais as consequências possíveis para a saúde destas e de quem convive com elas. A segunda, é que a cidade precisa se preparar para situações semelhantes. Isto inclui a adoção de política pública voltada para emergências radioativas com investimentos em capacitação e treinamento. Até mesmo o uso de veículo preparado para o translado deve ser considerado, uma vez que o latão foi levado para a UFMG na própria viatura dos bombeiros, contaminando a todos que estavam dentro dela.


O único fato positivo desta história é que o balde revestido com chumbo não teve o lacre rompido. Ou seja: não foi aberto. Mas se fechado é uma terrível ameaça, imagine o contrário. É ou não é uma boa história para um livro?


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Até a próxima.

 
 
 

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